Gênero Lírico
- Presença de um eu lírico
- Subjetividade
- Sentimentalismo
- Musicalidade
- Atemporalidade
- Visão particular de mundo

Pode-se dizer que o gênero lírico é a expressão do sentimento pessoal. "É a maneira como a alma, com seus juízos subjetivos, alegrias e admirações, dores e sensações, toma consciência de si mesma no âmago deste conteúdo" (Hegel).
Elementos
- Verso
- Estrofe
- Rima
- Ritmo
- Métrica
- Forma
- Imagem
- Poema
- Poesia
Desenvolver o estudo de textos deste gênero parte do conhecimento prévio dos elementos que constitui sua estrutura e o seu sentido.
Já existe no blog um post sobre o estudo do gênero lírico. Clique aqui para conferi-lo.
- A obra de Mário Faustino é altamente densa e comprova a habilidade versicatória do poeta.
- Sua poesia é uma tentativa de uma nova construção poética.
- O homem e sua hora apresenta uma poesia hermática, ou seja, de difícil acesso, longe da pretensão, de parte da poesia moderna, de representar a fala é o registro prosaico do dia-a-dia.
- Seus versos são altamente subjetivos e com grande uso de metáforas absurdas, muitas vezes criando imagens paradoxais.
- Faustino dialoga com a geração de 45, entrelaçando o exercício crítico e a prática poética.
- Seus poemas são marcados pelo uso da metalinguagem
- A tripartição da poesia, segundo Ezra Pound:
- Melopaica – privilegiando a melodia
- Fanopaica – efatizando as imagens das metáforas
- Logopaica – destacando a linguagem e a razão
- Em Faustino a logopeia é colocada em segundo plano.
- Na obra, Faustino mostra-se especialista nas formas tradicionais, na invenção de novas linguagens e na busca de novos padrões estéticos.
- O poeta trabalha com o poema longo e com o diálogo com as tradições literárias.
- A intertextualidade surge na maioria dos poemas da obra.
- Pode-se afirmar que Faustino se encontra em dois lugares as suas linhas poéticas:
- No retorno a uma concepção solene do verso, privilegiando o verso decassílabo;
- Na revalorização das mitologias, tanto gregas quanto bíblicas, apontando para revitalização das tradições fundadoras da lírica e da cultura.
- A imagem e a música são os elementos vitais de sua poesia (melodia e ritmo)
- A interpretação está mais do lado das aliterações e assonâncias do que da razão interpretativa.

Tirado da revista pág. 125
Para o autor, a poesia é a arte de exprimir percepções através de palavras, organizando-as em padrões lógicos, musicais e visuais. O poeta não é aquele que explica o objeto, e, sim, o que o recria num plano verbal. Essa seria a distinção básica entre o prosaico e o poético, pois o primeiro volta-se para a comunicação, enquanto o segundo, para a recriação de um conjunto de coisas, seres, idéias, sob a forma de palavras, para formar um objeto novo: o poema. Faustino vê a arte poética como a recriação do mundo por meio de palavras que componham uma coisa só com o objeto nomeado por elas – a linguagem deve se confundir com esse mesmo objeto.
- Para a palavra poética transformar o mundo, cabe ao artista dar vida a ela, assim como Orfeu deu vida à natureza que o cercava. O poeta, então, em O homem e sua hora, seguindo os ensinamentos do cantor mitológico, torna a linguagem poética viva, orgânica, fecunda. Essa linguagem, por sua vez, mediando a luta entre o poeta e sua hora, presentifica o canto de Orfeu e busca sensibilizar e harmonizar feras, homens, pedras, instaurando, assim, por meio do verbo poético, a paz e o amor universal.

- Clique aqui para conferir o mito de Orfeu e Eurídice.
- Os versos dialogam com o surrealismo, assumindo uma dicção apocalíptica.
- O significado que as imagens possuem não é possível afirmar sem parecer suspeito.
- As aliterações destacadas nos versos mostram a sugestiva musicalidade, lembrando a estética simbolista.
- Este exemplo mostra como as poesias são construídas a partir de uma técnica que domina a unidade rítmica e métrica dos versos e também a unidade melódica e imagética.
Organização da obra
- A obra é dividida em três partes:
- “Disjecta Membra”(termo dodo latim que significa membros dispersos) ,
- “Sete Sonetos de Amor e Morte”
- “O Homem e Sua Hora”.
- A primeira parte apresenta os poemas:
- “Mensagem”
- “Brasão”
- “Noturno”
- “Vigília”
- ”Legenda”
- “Romance”
- “Vida toda linguagem”
- “Estrela roxa”
- “Alma que foste minha”
- “Solilóquio”
- “Mito”
- “Sinto que o mês presente me assassina”
- “Heceldama”.
- A maioria dos poemas apresentam versos decassílabos, porém com variação rítmica, onde o poeta utila das formas livres na composição poética.
- O poema “Romance” é a exceção. Escrito em redondilha maior (sete sílabas), métrica considerada mais popular .
- Os poemas que integram a segunda parte são:
- “O mundo que venci deu-me um amor”
- “Nam Sibyllam”
- “Inferno”
- “eterno inverno”
- “quero dar”
- “Agonistes”
- “Onde paira a canção recomeçada”
- “Ego de Mona Kateudo”
- “Estava lá Aquiles, que me abraçava”.
- Como o próprio título da parte já antecipa tratá-se de sete sonetos que são estruturados à maneira inglesa (quatorze versos sem a divisão estrófica).
- Destes sete sonetos, quatro apresentam característica da tradição renascentista ao ter como título o primeiro verso do poema
- A última parte contém o poema que dá título ao livro.
- Importante lembrar que quando mencionar o nome da obra este deve ser sublinhado O homem e sua hora e quando for o nome do poema este deve estar entre aspas “O homem e sua hora”.
- Neste poema Faustino materializa a sua busca poética apresentada nas duas primeiras partes de seu livro.
- “O homem e sua hora” possui 235 versos (na maioria decassílabos), com forte carga de intertextualidade, visitando a poética passada e presente para concretizar sua "renovação da poesia"
Mensagem
1. Em marcha, heróico, alado pé de verso,
2. busca-me o gral onde sangrei meus deuses;
3. conta às suas relíquias, ontem de ouro,
4. hoje de obscura cinza, pó de tempo,
5. que ele os venera ainda, o jogral verde
6. que outrora celebrou seus milagres mais fecundos.
7. Dize a eles que vinham
8. tecer silentes minha eternidade
9. que a lava antiga é pura cal agora
10. e queima-lhes incenso, e rouba-me farrapos
11. de seus mantos desertos de oferendas
12. onde possa chorar meu disfarce ferido.
13. Dize a eles que tombam
14. como chuvas de sêmen sobre campos de sal
15. sem mancha, mas terríveis
16. que desçam sobre a urna deste olvido
18. e engendrem rosas rubras
19. do estrume em que tornei seus dons de trigo e vinho.
20. Segue, elegia, busca-me nos portos
21. e nas praias de Antanho, e nas rochas de Algures
passado algum lugar
22. os deuses que afoguei no mar absurdo
23. de um casto sacrifício.
24. Apanha estas palavras do chão túmido inchado/intumescido
25. onde as deixo cair, findo o dilúvio:
26. forma delas um palco, um absoluto Noé
27. onde possa dançar de novo, nu
28. contra o peso do mundo e a pureza dos anjos,
29. até que a lucidez venha construir
30. um tempo justo, exato, onde cantemos
Brasão
1. Nasce do solo sono uma armadilha
2. Das feras do irreal para as do ser
3. - Unicórnios investem contra o Rei.
4. Nasce do solo sono um sobressalto.
5. Nasce o guerreiro. A torre. Os amarelos
6. Corcéis da fuga de ouro que implorei.
7. E nasce nu do sono um desafio.
8. Nasce um verso rampante, um brado, um solo
9. De lira santa e brava - minha lei
10. Até que nasça a luz e tombe o sonho,
11. O monstro de aventura que amei.
Brasão
(bra.são) Dicionário Caldas Aulete
sm.
1 Her. Conjunto de figuras e ornatos que compõem distintivo, insígnia, escudo de uma nação, família, soberano etc
2 Her. Peça confeccionada com esses elementos; INSÍGNIA; DISTINTIVO.
3 Her. Arte que trata da composição e interpretação das armas e distintivos da nobreza; HERÁLDICA.
4 Fig. Lema, princípio
5 Fig. Honra, glória
Brasão
1. Nasce do solo sono uma armadilha ambiguidade solo (?)
2. Das feras do irreal para as do ser Chão, sozinho ou
3. - Unicórnios investem contra o Rei. Composição musical(?)
4. Nasce do solo sono um sobressalto. Referência à montaria
5. Nasce o guerreiro. A torre. Os amarelos da morte no poema
6. Corcéis da fuga de ouro que implorei. "Romance"
7. E nasce nu do sono um desafio.
8. Nasce um verso rampante, um brado, um solo A origem da nova
9. De lira santa e brava - minha lei poesia
10. Até que nasça a luz e tombe o sonho, O fim do sonho
11. O monstro de aventura que amei.
Segunda parte
Sete sonetos de amor e morte
O MUNDO QUE VENCI DEU-ME UM AMOR
- O mundo que venci deu-me um amor,
- Um troféu perigoso, este cavalo
- Carregado de infantes couraçados.
- O mundo que venci deu-me um amor
- Alado galopando em céus irados,
- Por cima de qualquer muro de credo,
- Por cima de qualquer fosso de sexo.
- O mundo que venci deu-me um amor
- Amor feito de insulto e pranto e riso,
- Amor que força as portas dos infernos,
- Amor que galga o cume ao paraíso.
- Amor que dorme e treme. Que desperta
- E torna contra mim, e me devora
- E me rumina em cantos de vitória.
INFERNO, ETERNO INVERNO, QUERO DAR
Paranomásia no título
- Inferno, eterno inverno, quero dar O poema apresenta
- Teu nome à dor sem nome deste dia várias referências à morte
- Sem sol, céu sem furor, praia sem mar,
- Escuma de alma à beira da agonia. Inverno, escuma de alma
- Inferno, eterno inverno, quero olhar
- De frente a gorja em fogo da elegia,
- Outono e purgatório, clima e lar Outono e purgatório referente à vida
- De silente quimera, quieta e fria. Quimera = Monstro ou utopia
- Inverno, teu inferno a mim não traz
- Mais do que a dura imagem do juízo Carátula = Máscara
- Final com que me aturde essa falaz
- Beleza de teus verbos de granizo;
- Carátula celeste, onde o fugaz Fugaz estio = rápido verão, brilho efêmero
- Estio de teu riso - paraíso? Perdição - Salvação - Vida - Amor - Morte
Ego de mona kateudo
- O título, que Faustino escreve em grego no manuscrito, é uma citação de um verso de Safo de Lesbos, uma de suas referências constantes: “ Déduke mèn a selánna/ kái Pléiades; mésai dè/ núktes, parà d’ erchet’ óra,/ égo dè móna katéudo”
- “ A lua já se pôs, as Plêiades também;/ É meia-noite;/ A hora passa, e estou deitada, sozinha ”).
demais as análises. muito obrigado!
ResponderExcluiras análises foram muito boas e úteis!
ResponderExcluirobrigada =)
Geeeente ,o MÁRIO FAUSTINO era a "esfinge gótica" da vez e só vc ADRIANO para decifrar este enigma. Vc é ótimo .Obrigada!
ResponderExcluirELIANE SRP - sala 04 - noite
Galera, obrigado pelo comentário. Fico feliz em poder ajudar. Boa Prova!!
ResponderExcluirmuito bom mesmo!!!! adorei
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