Olá a todos! Concluímos nesta postagem a análise da obra O Desertor de Manuel Inácio da Silva Alvarenga, com Canto IV e Canto V, não deixe de conferir a primeira parte de nossa análise clicando aqui.
Canto IV

A segunda estrofe mostra que quem cuida da porta da prisão é Amaro, pai de Dorotéia, moça dos sonhos de Rufino. Vigilante atento, porém medroso de tudo que a noite produz de sons, é enganado pela Ignorância que agora se passa por um religioso penitente que vive isolado no rigor de uma vida austera.
O vigilante prepara e serve uma farta refeição para frágil e penitente visitante que, depois de alimentado, começa falar em tom de profecia:
Pois tanta caridade usais comigo,
O Senhor, que reparte os seus tesoiros,
Vos encherá de mil prosperidades.
A vossa filha... mas convém que eu cale
Os segredos, que o Céu me comunica,
Inda vereis nascer entre riquezas
Os venturosos netos, doce arrimo
Aos fracos dias da caduca idade.
Comovido com as palavras proféticas, Amaro narra a triste história de seu filho Leandro que morreu de doença da bexiga aos dez anos. Enquanto narra, a Ignorância transforma-se na velha e sábia Marcela que lê a sorte de Dorotéia:
Sobre pequeno pau, a que se encosta,
Ela vem debruçada pouco a pouco,
O semblante enrugado, os olhos fundos,
Contra o nariz oposta a barba aguda:
Os dous últimos dentes balanceiam
Co pestífero alento, que respira.
Dorotéia, em segredo, lhe mostra a mão querendo que a velha assim possa traduzir as confusas palavras de Tibúrcio. Na quarta estrofe Marcela começa a falar sobre o futuro da moça que terá como esposo um cavalheiro que está preso naquela prisão. A vidente revela que o nome do mancebo é Gonçalo, que o mesmo é rico e nobre. A moça já se sente como amante e pensa na melhor maneira de dar ao seu herói a liberdade.
- A Ignorância convence Dorotéia que manda comida e recado para Gonçalo. Este por sua vez pensa com certa culpa em Narcisa e mesmo sem conhecer Dorotéia sente no coração o desejo de novas amarras.
- Na quinta estrofe, com a chegada da noite, o silêncio impera e Gonçalo cansado, pouco a pouco vai se esquecendo de seus planos, boceja, dorme e sonha. Sonha com a brilhante verdade, a severa justiça e a paz ditosa.
O próprio narrador manifesta o desejo que nosso herói retorne à razão e usa a imagem do trono e da Coroa portuguesa:
Benignos Céus, enchei meus puros votos:
Fazei que esta celeste companhia,
Como do terno Avô rodeia o trono,
De seu Neto imortal orne a Coroa.
Em sonho Gonçalo recebe a visita das luzes. O herói teme encará-las e tenta se proteger colocando as mão sobre os olhos. Porém, pela voz da verdade, a reforma da Universidade, expressa no verso “Do meu nascente Império a nova glória”, tenta convencê-lo a retornar destacando as inovações em Coimbra.
A pérfida ignorância foi substituída pela razão ilesa e pura. Esta estrofe é um elogio às expectativas oriundas da reforma que abrirá o caminho para a volta da filosofia racional, para a física e a história natural por meio dos ótimos e famosos professores que foram atraídos de diversas partes da Europa:
Eu sou quem de intrincados labirintos
Pôs em salvo a Razão ilesa, e pura.
Eu abri aos mortais os meus tesoiros:
Fiz chegar aos seus olhos quanto esconde
No seio imenso a fértil Natureza.
Pode uma destra mão por mim guiada
Descrever o caminho dos Planetas:
O mar descobre as causas do seu fluxo:
A Terra... mas que digo? Que ciência
Não fiz tornar às margens do Mondego,
Ou dentre os braços da Latina Gente,
Ou dos belos países, cujas praias
O mar azul por toda a parte lava?
A reforma continua falando a Gonçalo que a Firmeza do Estado e da Igreja também é construída pela razão e pela verdade que também trazem a paz ao povo que é dito Eu vejo renascer um Povo ilustre / Nas armas, e nas letras respeitado. A Lira de Mercúrio (deus romano encarregado de ser o mensageiro de Júpiter) mencionada é uma referência ao conhecimento em outras terras das notícias da reforma.
Continua ainda as luzes a tentar convencer Gonçalo a aderir a reforma arguindo-o se era o froxo, o estúpido, o insensível? E se sacrificaria tudo: nome, honra, pátria, para continuar na ociosidade da vida causada pelo domínio dos padres na sua formação:
Serás o frouxo, o estúpido, o insensível?
Sacrificas o nome, a honra, a Pátria
Aos moles dias de uma vida escura?
Cego, errado mortal, vê que te enganas.

Na oitava estrofe é apresentada a investida de Dorotéia na tentativa de libertar o seu agora amado. Ela, na escuridão, invade a prisão e no descuido acorda o pai. Amaro começa gritar achando que está sendo visitado por fantasmas e bruxas. Tibúrcio se enrola como um fantasma e vai até os aposentos do velho e diz que estava ali para levá-lo. O velho se arrepia e perde a voz. A filha aproveita para abrir as portas e libertar o seu prometido e seus companheiros. Para Amaro só lhe resta a solitária companhia de seus temores.
- Amaro, na nona estrofe, é consolado por Tibúrcio, que ainda estava como o profeta, ao perceber que a prisão estava vazia e que sua filha também havia partido. O pai fica desconsolado e Tibúrcio parte com a esperança de se encontrar co valente esquadrão dos fugitivos.
- Já pela manhã quem ele encontra é Rufino com sua mágoa incosolável. Dorotéia havia partido com outro, se pergunta que se o sonho lhe inspirou para mais tarde vê-la insultando o seu amor fiel. E afirma que seria mais feliz se a morte viesse cobrir-lhe os olhos.
- Tibúrcio busca pelo grupo no caminho horroroso e reencontra com Gonçalo
- O Desertor derramando-se em alegria se sente fortalecido ao rever o companheiro que sempre com conselhos lhe evita e previne males.
- Porém o texto cita Aos dois Troianos, que uma cega noite, referência direta à Eneida, de Virgílio, em que a personagem Euríalo tornou-se visível para seus inimigos por causa do brilho de seu capacete e acaba morto por isso.
- Tibúrcio também é reconhecido por Dorotéia como o profeta que profetizou sua união com Gonçalo. A moça se sente culpada.

A briga era de pedra contra pedra, até que Dorotéia pega a espada abandonada por nosso herói e tenta golpear o Desertor. A morte só não acontece porque Tibúrcio consegue segurar a tempo o braço da moça.
O amante e seus dois companheiros fogem. Assim, como Hércules que foi envenenado por sua Dejanira, Gonçalo sente-se aflito, raivoso e enciumado por conta de Dorotéia. E o quarto canto termina com a moça dominada e aguardando a sentença do seu destino.
Canto V
Dorotéia lamenta ter acreditado em Marcela e pragueja contra a bruxa:
Sem esposo, sem pai, sem liberdade
Mísera Dorotéia chora, e geme.
Ai, Marcela cruel, que m'enganaste
Com teus belos, fantásticos agouros!
Queira o Céu que outras lágrimas sem fruto
Mil vezes tresdobradas te consumam
Os encovados olhos! Que inda a Morte
Às tuas vozes surda correr deixe
Piorando em seu curso vagaroso
Os momentos de dor, e de amargura!

Abandonada Dorotéia se vê agora rodiada pelas dores, remorsos, fome e a morte. Porém a Fortuna cansada de ouvir as tristes queixas de Rufino leva até o amante os ecos dos gemidos da moça. E pela mão do Acaso é conduzido até Dorotéia. E mesmo depois de tanto lhe causar sofrimento, o rapaz enxerga ainda na moça a sua amada. E a quinta estrofe sela o encontro dos dois.
Enfim o grupo chega em Mioselha. O Desertor mostra os campos e o vilarejo começa aparecer. Tibúrcio é ridicularizado pelo narrador, comparando sua sede por vinho com a de um bezerro que passou a noite toda separado de sua mãe e berra por ter a boca sedenta de seu leite.
Gaspar mostra a biblioteca do seu tio. Aqui o narrador se coloca como crítico das obras listada, quase todas seiscentistas, combatidas por Alvarenga, com fins edificantes e religiosos.
Enquanto o grupo aprecia as prateleiras, Amaro segue os passos do esquadrão que fama já possui de suas proezas. E na estrofe onze o povo cerca a casa da tia de Gaspar querendo enfrentar os desertores. Porém a Ignorância fala pela boca de Gonçalo convocando os seus heróis para enfrentar a plebe.
O combate é feito com uma talha como improvisada arma que espalhou cinzas sobre a turba. Amaro anima para que continuem a investida e atiram coisas pela janela.
Com a derrota iminente, Gonçalo consegue fugir e depois Gaspar deixando Tibúrcio, por ser gordo e não ser ágil, sozinho entre a Plebe.
Chegamos no epílogo, a última parte de uma epopeia, e nosso herói enfim chega a casa de seu tio. Gonçalo, cansado, ainda traz em si o coração endurecido pela teimosa Ignorância. O tio o ameça e o tenta convencê-lo a voltar aos estudos, mas o Herói inflexível só responde/ Que não há de mudar do seu projeto. A resistência de Gonçalo e comparada a Cintra, serra de Portugal e ao Pão de Açucar, rochedo na barra da Cidade do Rio de Janeiro.
A estrofe 15 apresenta enfim a derrota da Ignorância, tema central do epílogo. Pois da voz do tio vem o conhecimento dos atos torpes da viagem do sobrinho e também o castigo de não recebê-lo em sua casa, batendo na cara do Desertor o ferro da porta que se fecha.
Gonçalo que ao menos ainda vive e tem a Glória de trazer consigo a derrotada estúpida Ignorância, que se contenta de ter roubado o preço inútil de fracos Cidadãos e que reina no peito do Desertor
A última estrofe o narrador adverte a Ignorância, aconselhando o Monstro orgulhoso a gozar sobre os espíritos baixos, pois o Defensor das Ciências, o Marquês de Pombal, já as faz renascerem e fecundar os campos gerando flores e frutos. E que o poder real possa banir a Ignorância, que se encontrava até então os estudantes da Universidade de Coimbra, para o mais distante e inacessível lugar.
Canto V
- O destinio de Dorotéia será decidido pelos três companheiros:
- Deixá-la em liberdade e que encontre a ira de seu ultrajado pai.
- Que sua morte seja exemplo e que encha de horror outras desleais amantes.
- Porém Gonçalo, o único ofendido, no início se enternece, mas depois o ciúme lhe domina e a vingança fala mais alto.
- Então prende Dorotéia ao tronco de um pinheiro. E como forma de aviso, o narrador adverte para as filhas namoradas que o destino da moça é o prémio do Amor para quem perde a razão. A filha de Amaro geme e espera sem defesa o seu fim.

Dorotéia lamenta ter acreditado em Marcela e pragueja contra a bruxa:
Sem esposo, sem pai, sem liberdade
Mísera Dorotéia chora, e geme.
Ai, Marcela cruel, que m'enganaste
Com teus belos, fantásticos agouros!
Queira o Céu que outras lágrimas sem fruto
Mil vezes tresdobradas te consumam
Os encovados olhos! Que inda a Morte
Às tuas vozes surda correr deixe
Piorando em seu curso vagaroso
Os momentos de dor, e de amargura!


Enfim o grupo chega em Mioselha. O Desertor mostra os campos e o vilarejo começa aparecer. Tibúrcio é ridicularizado pelo narrador, comparando sua sede por vinho com a de um bezerro que passou a noite toda separado de sua mãe e berra por ter a boca sedenta de seu leite.
- Cosme, por vingança, relata para o Tio de Gonçalo toda a história do Desertor até a chegada a Mioselha.
- Gaspar determina que os companheiros sejam abrigados em sua casa, o que aflinge a dona da casa que espera que a fome os faça partir.
- É servido ao grupo uma ceia leve e Tibúrcio lamenta lembrando do tempo que vivia em uma confraria rica e vivia sempre em companhia da Abundância.
Gaspar mostra a biblioteca do seu tio. Aqui o narrador se coloca como crítico das obras listada, quase todas seiscentistas, combatidas por Alvarenga, com fins edificantes e religiosos.


Com a derrota iminente, Gonçalo consegue fugir e depois Gaspar deixando Tibúrcio, por ser gordo e não ser ágil, sozinho entre a Plebe.
Chegamos no epílogo, a última parte de uma epopeia, e nosso herói enfim chega a casa de seu tio. Gonçalo, cansado, ainda traz em si o coração endurecido pela teimosa Ignorância. O tio o ameça e o tenta convencê-lo a voltar aos estudos, mas o Herói inflexível só responde/ Que não há de mudar do seu projeto. A resistência de Gonçalo e comparada a Cintra, serra de Portugal e ao Pão de Açucar, rochedo na barra da Cidade do Rio de Janeiro.
A estrofe 15 apresenta enfim a derrota da Ignorância, tema central do epílogo. Pois da voz do tio vem o conhecimento dos atos torpes da viagem do sobrinho e também o castigo de não recebê-lo em sua casa, batendo na cara do Desertor o ferro da porta que se fecha.
Gonçalo que ao menos ainda vive e tem a Glória de trazer consigo a derrotada estúpida Ignorância, que se contenta de ter roubado o preço inútil de fracos Cidadãos e que reina no peito do Desertor
A última estrofe o narrador adverte a Ignorância, aconselhando o Monstro orgulhoso a gozar sobre os espíritos baixos, pois o Defensor das Ciências, o Marquês de Pombal, já as faz renascerem e fecundar os campos gerando flores e frutos. E que o poder real possa banir a Ignorância, que se encontrava até então os estudantes da Universidade de Coimbra, para o mais distante e inacessível lugar.
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