Contexto Literário
Os sonetos de Camões pertencem ao Classicismo Português (1527 a 1580), período que correspondeu à manifestação literária do Renascimento. Marcou-se pela retomada dos ideais dos gregos e romanos, os dois povos da Antiguidade Clássica. Entre suas regras podem ser destacados o antropocentrismo, a imitação de modelos, a referência à mitologia greco-romana, o respeito à razão, equilíbrio, harmonia, a busca da perfeição formal, da clareza e do universalismo. Pertenceu também a essa escola o ufanismo, ou seja, o orgulha nacionalista exacerbado.
O soneto
É denominado soneto o gênero lírico de origem italiana. Seu nome deriva do termo franco-provençal "sonet", diminutivo de "suono" (som, melodia), que por sua vez, tem origem na palavra latina "sonus". Sua criação é geralmente atribuída a Francesco Petrarca, humanista do século XIV, mas hoje já se sabe que tal forma é pelo menos um século mais antiga, já praticada por Giacomo de Lentino (1210 - 1260). Embora controversa, a teoria mais aceita atualmente é que de Lentino tenha elaborado uma forma estilizada baseando-se na poesia popular de sua terra, a Sicília. O soneto é composto por dois quartetos e dois tercetos, ou seja, quatro estrofes (conjuntos de versos), sendo que as duas primeiras devem conter quatro versos e as duas últimas três, num total de catorze versos. No soneto dito petrarquiano ou regular, as rimas estão organizadas em abba abba cdc (cde) dcd (cde), mas já no período do Renascimento, diversas variações estavam em prática.
A medida nova
O Humanismo metrificou a poesia com as redondilhas menor (cinco sílabas) e maior (sete sílabas), chamado de medida velha, a qual foi usada também por Camões. Porém no Classicismo o fato mais marcante é a introdução da medida nova, ou seja, os versos decassílabos.
O céu, a terra, o vento sossegado... [A]
As ondas, que se estendem pela areia... [B]
Os peixes, que no mar o sono enfreia... [B] Rimas interpoladas ou intercaladas (ABBA)
O nocturno silêncio repousado... [A]
O pescador Aónio, que, deitado [A]
Onde co vento a água se meneia, [B]
Chorando, o nome amado em vão nomeia, [B] A organização rímica do poema é
Que não pode ser mais que nomeado: [A] ABBA ABBA CDE CDE
— Ondas – dezia – antes que Amor me mate, [C]
Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo [D]
Me fizestes à morte estar sujeita. [E]
Ninguém lhe fala; o mar de longe bate; [C]
Move-se brandamente o arvoredo; [D]
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita [E]
O poema acima é um exemplo como o poeta respeita os ditames do Classicismo ao expressar com equilíbrio a dor diante da ausência da pessoa amada. Nenhum poeta exprimiu de forma tão bela e dolorosa a agonia da saudade e da solidão causada pela distância de um amor, arrebatado pela morte, como o fez Camões no soneto. O clamor do pescador Aónio às ondas perde-se ao vento. Esse equilíbrio também pode ser percebido na forma rígida do soneto que utiliza a forma fixa da medida nova, decassílabo:
O - céu, - a - te - rra, o - ven - to - so - sse - ga - do (sílaba átona)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 desprezada
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