O autor
Fernando Tavares Sabino nasceu em 1923, em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde fez os estudos primário e secundário, marcados pelo convívio amigo de Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino. Desde cedo mostrou aptidão literária. Aos treze anos, escreveu um conto policial e aos quinze, passou a publicar seus contos e crônicas, regularmente, em revistas literárias.
Suas crônicas, enriquecendo o modernismo, são retratos da vida urbana, nos quais explora, com fino senso de humor, as sutilezas, os desconcertos e o nonsense do cotidiano. Além disso, sua obra tem revelado a preocupação com as injustiças, com os absurdos da vida, com os heróis quixotescos e com as indecisões do homem ante o "eu" e o "outro".
A Crônica
Segundo o crítico literário Antônio Cândido:
“A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura (...).
(...) Ora, a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor. Isto acontece porque não tem pretensões a durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.”
Ou seja, a principal característica da crônica é a aproximação com o público, na medida em que contém uma linguagem mais direta e despretensiosa.
Ao mesmo tempo que é marcada notadamente pelo tempo, ou seja, pela curta duração que possui esse tipo de texto.
As Melhores Histórias de Fernando Sabino
São cinquenta crônicas escolhidas pelo próprio Fernando Sabino, listarei abaixo uma resenha crítica de cada uma.
1) Por falar em aperto
O cronista(narrador) estava no aeroporto de Porto Alegre de partida para o Rio de Janeiro, acompanhado por seu amigo Josué Guimarães, quando surgiu um repórter de uma rádio local querendo entrevistá-lo. O cronista concordou mas alertou que o barulho das turbinas dos aviões atrapalhariam a gravação.
Nessa hora surgiu a sugestão de irem para cabine telefônica. Mas havia um problema: o repórter era muito gordo. O narrado nem sabia direito quem fez essa sugestão insensata.
A cabine era com essa da imagem acima com porta retrátil. O cronista entrou primeiro, mas pensou melhor e deixou o repórter entrar primeiro, mas mesmo assim teve que contar com a ajuda do amigo para o empurrar para dentro e fechar a porta.
Começa a entrevista e o calor dentro da cabine também. O repórter parecendo narrador de futebol saúda a torcida e faz a primeira pergunta, a qual o cronista respondeu com dificuldade, pois estava arfando de tanto aperto e desconforto.
A entrevista se seguia quando Josué Guimarães, amigo do cronista, começa sinalizar que estavam chamando para embarque. O cronista avisa o repórter que precisava terminar, mas ele soltou uma última pergunta. Depois ambos perceberam que teriam dificuldade para sair da cabine.
Ao tentar sair o cronista teve que abraçar o repórter e o contorcionismo dos dois já atraia um público à cabine e gargalhadas ao amigo do cronista.
Quando conseguiu sair, o cronista saiu correndo, nem despediu do amigo, mas conseguiu pegar o voo.
2) O agrônomo suíço
Crônica bem curta sobre um mal entendido através de uma conversa de telefone. O cronista liga para um poeta amigo dele para conseguir o número do telefone de um agrônomo que era suíço, pois um outro amigo estava no pé dele atrás do número.
O amigo poeta estava no bar e, evidente, aquele barulho atrapalhou a comunicação entre eles. Toda tentativa do cronista de se fazer entender foi em vão, por isso pediu para que o poeta amigo fosse até a casa dele na manhã seguinte.
Tal foi a confusão da mensagem que o poeta chegou na casa do cronista dizendo:
- Você talvez não se lembre, mas ontem eu estava calmamente no bar, tomando um aperitivo, quando você me telefonou no maior pileque para me contar que estava sendo perseguido por um sujeito chamado Luís. Que você quis dizer com isso?
e o cronista respondeu: "Isso, não: Suíço".
3) O caso das camas
O cronista estava em Londres e receberia no outro dia as filhas e para acomodá-las era necessário comprar duas camas.
O cronista foi para loja e escolheu a cama, porém o vendedor o alertou que para o prazo que precisava não teria como entregar, pois precisava fazer a encomenda na fábrica. Diante da insistência do cronista, o vendedor disse que naquele prazo só se for as camas que estavam no mostruário, o que fi aceito pelo cronista com ar de surpresa do vendedor.
As camas foram entregues no outro dia, porém por confusão do vendedor o pedido foi feito para a fábrica e entregas e devoluções consecutivas de novos colchões ocorreram para o desespero do cronista. Chegaram cartas da fábrica querendo saber a causa da devolução e etc.
No fim recolheram os colchões e quando tudo parecia resolvido para um caminhão entregando novas camas.
4) Primo Pagão
O cronista conta a história de um vagabundo (morador de rua) que o chamava de primo por simplesmente ter nascido na mesma cidade. Se aproximava do cronista para lhe pedir dinheiro e falar de parentes que ele nem conhecia. Mesmo com o cronista lhe dando um traje completo e um emprego, tempos depois lá estava o primo pagão maltrapilho na praça. Depois, o primo pagão passou a entregar papel para telegrama preenchido por ele com felicitações de toda data importante. Por fim, despediu-se pois havia um parente precisando dele em Niterói, mas antes de sair pediu dinheiro para pegar a barca.
5) Manobras do esquadrão
Esta crônica relata uma época em que o cronista servia ao exército e participou de uma guerra simulada. Por um acidente foi ferido em um dos olhos e capturado pela tropa vermelha, ele integrava a equipe azul. Mas o capitão da tropa inimiga era o antigo instrutor do cronista no CPOR, logo foi bem recepcionado. O cronista foi alojado, dormiu mais do que deveria e acabou abandonado em um vilarejo. Alguém lhe ofereceu o carro de boi, que seria muito lento, e o cronista toma de assalto o jipe da tropa inimiga que leva um saco de farinha que imitava bombas aéreas. Com muita fome se entalou com farinha. Enfim chegou em São João Del Rei e precisava de um avião para voltar para Juiz de Fora. Tenente Álvaro se dispôs a levá-lo. Termina a crônica dizendo que contaria separadamente sobre o tal tenente.
6) Vol de muit
O título refere-se à obra de Antoine de Saint-Exupéry, autor de O pequeno príncipe.
A crônica narra a aventura aérea vivida pelo cronista sendo levado pelo tenente Álvaro de São João Del Rei para Juiz de Fora. Tenente Álvaro não era piloto formado, só tinha algumas horas de voo. Depois de tantas trapalhadas eles conseguem chegar bem ao destino. O tenente foi proibido de voar e virou o renomado advogado Álvaro Dias.
7) O Falcão Negro
Crônica que narra as brincadeiras e hiperatividade das crianças, representadas por Pedro, filho de Fernando Sabino. O cronista tenta ler o jornal, mas acompanha as brincadeira de Pedro. O filho por sua vez que a atenção do pai e faz inúmeras perguntas, mostra o vidro quebrado em formato de peixe no banheiro e chama o narrador para jogar futebol de botão. O cronista há muito não joga e não quer desfazer a fama de bom jogador e sugere outro jogo: fava. O cronista faz de tudo para o menino ganhar, mas por um lance de sorte é ele que acaba ganhando. Por fim o menino se liga na televisão, acompanhando outro herói, tal vez o Falcão Negro.
8) Manobras do esquadrão


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